Tudo começou no final de Agosto princípio de Setembro…
Eu era o rapaz da piscina, ela era uma menina de cabelo
cenoura, de férias, no Algarve…
Nos conhecemos de forma particular, ela convidou-me para
bebermos um copo no final da tarde…eu fiquei gago e abanei a cabeça, sempre
tive medo das mulheres e então naquela altura, tremia que nem varas verdes
quando me olhavam…
Assim foi, fomos beber um copo, ou melhor cinco, dez, só
sei, que depois, fomos para a praia do olhos de água molhar os pés …
No outro dia, ela veio ter comigo, disse que tinha gostado e
queria ver a praia de dia … foi nesse local, que nasceu o primeiro beijo e uma
cordilheira de vulcões dentro do peito …
Naquela tarde … tudo mudou em nós… o pior, é que ela ia
voltar para Irlanda no dia a seguir…
Nessa noite falamos, abraçamos a alma de cada um, até chegar
ao ponto de ebulição, foi nesse momento, que ela chorando, me disse – não sou
igual às outras, ainda sou virgem, quero fazer amor contigo mas não assim … eu
abracei-a e lhe disse que também era …
Afinal éramos virgens do signo caranguejo … emocionalmente ricos,
as lágrimas comprovaram isso durante todo tempo…
Na manhã seguinte, apanhou o autocarro até ao aeroporto,
deixando a sua morada num papel, pedindo que lhe escrevesse … quando autocarro partiu,
meu existir se partiu, as lágrimas entupiram no meio de soluços e imitei na
perfeição, o céu de inverno repleto de nuvens gordas …
Meu Deus, se lhe escrevi, dia sim, dia não, sempre lhe
mandava uma carta com o meu inglês alentejano romeno… e junto uma lembrança do
coração…
Todos os dias ia ver a caixa do correio, se tinha
correspondência, com entusiasmo e saudade, até que começamos-nos a telefonar …
ela contou aos pais, religiosos e conservadores …
Ao princípio, ficaram reticentes, mas não podiam ver a filha,
a chorar, a amar, numa tristeza imensa …
Até que, um mês depois, me convidaram para passar o natal
com eles …
Era a primeira vez que iria pássaro natal, longe dos meus
pais e do meu irmão …
Mas foi o que aconteceu …
Durante três anos, centenas de cartas, uma dezena de
viagens, muitas lágrimas, e sorrisos …saudades avulso, promessas de uma vida a
dois… um amor que galgou as fronteiras…
Até que, na sua ultima vinda a Portugal, nas férias grandes
de Agosto, resolveu explicar o que iríamos fazer …
Tínhamos decidido, que não iria-mos usar nenhum meio contraceptivo
e se Deus quisesse, ela ficaria grávida e assim seria mais fácil ficarmos
juntos para sempre e não teria de ir para a universidade em Dublin…
A verdade é que Deus não quis, ela não engravidou e foi se formar…
ser arqueóloga, um sonho desde pequenina …
Ainda resisti no
sonho, no entanto a saudade não. Um dia, quando já não tinha chão e o céu me
caia como inferno; resolvi rumar até a Irlanda para morar lá, com a esperança
de a encontrar, uma tentativa desajeitada de não perder o seu amor, que se
tinha tornado a única coisa importante no mundo… Acabei por a encontrar, mas a
sua decisão já estava tomada… Seriam três anos de estudo e de concertação e
nenhum amor poderia resistir …era demasiado desgastante, emocionalmente e
financeiramente…
Voltei com as lágrimas pesadas, um abismo profundamente cheio,
lembro -me estar no aeroporto tendo o corpo e a roupa encharcada de tanto
chorar …
Assim acabou uma história de amor …o primeiro amor,
descontrolado, autentico, sincero, inconsciente, repleto de ilusão, inquieto,
trazendo a frescura do incerto, as mãos suadas em cada encontro, enfim, a
intensidade imensurável de cada instante de afecto….
Espero que ela se tenha formado e que hoje, seja muito
feliz; tendo uma família, um marido que ame tanto quanto a amei, que tenha
filhos lindos … e se alguma vez se lembrar de mim, que seja com um sorriso…