Se um dia a luz se apagar,
a persiana se fechar,
e o sol não puder sair da rua,
é nos teus braços
que vou encontrar
Francisco Davida luz do meu olhar.
Se um dia a luz se apagar,
a persiana se fechar,
e o sol não puder sair da rua,
é nos teus braços
que vou encontrar
Francisco Davida luz do meu olhar.
As lágrimas
virgens
de calor
regressam
ao mar
lacrado
para os sonhos.
Vejam,
o que as brigas
e os silêncios
[da indiferença]
fazem nos olhos
de uma criança.
Vagas de escuridão
presas na inquietude
de marear
a mágoa.
Querida,
vamos lá
agarrar no machado
e arrombar o pombal,
é urgente
salvar
os seis braços
com a paz
para que todos
os aniversários
sejam mágicos .
Após decifrar o significado dos aplausos,
[a saudação precoce dos futuros regressos].
Reuni todas as ilusões,
E nenhuma delas
Era verdadeiramente minha...
Nem as imagens refletidas,
Nem os versos mais altos,
Nem as presenças ouvidas.
Nunca fui, nunca chegarei a ser...
Nunca poderia ser aquela menina
Com olhos das três estações
E da liberdade na voz,
Um milhão de vezes conquistada.
Sei bem o que fiz,
Arrombei o camarim da imaginação
Para esconder as dores, os amores da sua pele.
Vesti as barbas do Pai Natal,
O avental da criada,
As rugas maduras da senhora mais árvore.
Calcei a coragem do corredor,
Peguei no pincel do pintor
Para desenhar suas falas.
Adotei a rua
Do mendigo mais pobre.
Roubei as assinaturas mais belas
E torci suas linhas
Para disfarçar os nomes.
Estiquei as ondas
Para boiar nelas
As suas letras
Mais ditosas.
No final,
Dei a cara
Para chorar
Suas lágrimas...
Ela sou eu,
Eu,
Nunca poderia ser ela.
Nos entardeceres amanhecidos,
O salão de baile
Aguarda várias estrelas
Fica triste quando
Uma estrela em particular
Não chega
Com o seu sorriso
Mengado com a pureza das flores
Hoje soube que ela não vem
Já lhe disse para mudar de saia
Soltar o cabelo pelos arrozais
E para chegar como sempre
Ofuscando todas as outras...
Acredita que ninguém notará a sua falta
Como lhe posso explicar
Que ela é sol
Se ela não vier
Ficará noite
E ninguém mais
Poderá resgatar
Os azuis
Presos
Debaixo das suas lentes
a lágrima fervida
contrasta com a lágrima
desmaiada
tremida
triste de mágoa
a que lágrima pertencerá
essa lágrima de raiva
farta
corrosiva
que faz barulho
na cara?
lágrimas assim
não nascem num coração
mongo
gordo de afagos
lágrimas assim
nascem de uma alma arrasada
pulando
arrancando
a raiz
do tronco
chorando
um silêncio novo
num recém-nascido
infeliz
rosto
lágrimas assim
reconhecem
que o céu
é o melhor parapeito
para olhar o coração
que não sabe viver
sem o outro
Observei cada passo teu,
cada rasto de estrela
que deixaste,
emoldurei-o
com o olhar,
nas mãos,
sem pregar olho.
Apesar da lonjura dos olhares,
ainda tenho em fila
o molde de cada passo
teu,
e o seu infinito brilho
do adeus.
Deveríamos seguir o amor
quando o adeus não faz sentido
e modificar o seu destino.
Ou melhor,
o sentido contrário do amor
não pode ser a mão aberta
disfarçando o não
com mais quatro dedos
levantados,
desunidos do coração.
Ou melhor,
não deveria existir adeuses,
só as mãos abertas em pares,
mais que preparadas
para se entrelaçarem nas costas,
assim que regressares e
tocares no peito com o peito,
em clave.
Eis, uma imagem tão familiar:
mares,
misturados no olhar.
um caminho descalço na nudez dos passos.
o sustento salgado
da tua brisa,
de mãos dadas com o Nunca,
tão bem disfarçado do Quase,
tão próximo do Chega,
tão perto do Nada,
a uns grãos de areia
do Quase Tudo.