quarta-feira, 1 de maio de 2024

Depois da última linha, tudo voltará a ser mar...

 




Após decifrar o significado dos aplausos,

[a saudação precoce dos futuros regressos].

 

Reuni todas as ilusões,

E nenhuma delas

Era verdadeiramente minha...

Nem as imagens refletidas,

Nem os versos mais altos,

Nem as presenças ouvidas.

 

Nunca fui, nunca chegarei a ser...

Nunca poderia ser aquela menina

Com olhos das três estações

E da liberdade na voz,

Um milhão de vezes conquistada.

 

Sei bem o que fiz,

Arrombei o camarim da imaginação

Para esconder as dores, os amores da sua pele.

 

Vesti as barbas do Pai Natal,

O avental da criada,

As rugas maduras da senhora mais árvore.

 

Calcei a coragem do corredor,

Peguei no pincel do pintor

Para desenhar suas falas.

 

Adotei a rua

Do mendigo mais pobre.

 

Roubei as assinaturas mais belas

E torci suas linhas

Para disfarçar os nomes.

 

Estiquei as ondas

Para boiar nelas

As suas letras

Mais ditosas.

 

No final,

Dei a cara

Para chorar

Suas lágrimas...

 

Ela sou eu,

Eu,

Nunca poderia ser ela.


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