terça-feira, 30 de abril de 2024

Os brilhos transparentes são ilusões de uma estrela

 








Nos entardeceres amanhecidos,

O salão de baile

Aguarda várias estrelas

Fica triste quando

Uma estrela em particular

Não chega

Com o seu sorriso

Mengado com a pureza das flores

 

Hoje soube que ela não vem

Já lhe disse para mudar de saia

Soltar o cabelo pelos arrozais

E para chegar como sempre

Ofuscando todas as outras...

 

Acredita que ninguém notará a sua falta

Como lhe posso explicar

Que ela é sol

Se ela não vier

Ficará noite

E ninguém mais

Poderá resgatar

Os azuis

Presos

Debaixo das suas lentes






segunda-feira, 29 de abril de 2024

Choro novo






a lágrima fervida

contrasta com a lágrima

desmaiada

tremida

triste de mágoa

 

a que lágrima pertencerá

essa lágrima de raiva

farta

corrosiva

que faz barulho

na cara?

 

lágrimas assim

não nascem num coração

mongo

gordo de afagos

 

lágrimas assim

nascem de uma alma arrasada

pulando

arrancando

a raiz

do tronco

 

chorando

um silêncio novo

num recém-nascido

infeliz

rosto

 

lágrimas assim

reconhecem

que o céu

é o melhor parapeito

para  olhar o coração

que não sabe viver

sem o outro


sábado, 27 de abril de 2024

Ainda acredito que uma Elefanta do mar pode abraçar um Lóris

 




Observei cada passo teu,

cada rasto de estrela

que deixaste,

emoldurei-o

com o olhar,

nas mãos,

sem pregar olho.

 

Apesar da lonjura dos olhares,

ainda tenho em fila

o molde de cada passo

teu,

e o seu infinito brilho

do adeus.

 

Deveríamos seguir o amor

quando o adeus não faz sentido

e modificar o seu destino.


Ou melhor,

o sentido contrário do amor

não pode ser a mão aberta

disfarçando o não

com mais quatro dedos

levantados,

desunidos do coração.

 

Ou melhor,

não deveria existir adeuses,

só as mãos abertas em pares,

mais que preparadas

para se entrelaçarem nas costas,

assim que regressares e

tocares no peito com o peito,

em clave.


terça-feira, 16 de abril de 2024

Mareias e não chegas ...

 


Eis, uma imagem tão familiar:




 

mares,

misturados no olhar.

um caminho descalço na nudez dos passos.

o sustento salgado

da tua brisa,

de mãos dadas com o Nunca,

tão bem disfarçado do Quase,

tão próximo do Chega,

tão perto do Nada,

a uns grãos de areia

do Quase Tudo.


domingo, 14 de abril de 2024

Não te aproximes de abraço armado

 



Desconfesso,

Tudo que guardo

Nas gavetas do peito:

Um espólio

De um coração

Imperfeito.

 

Tanta imundície,

Por datar,

Misturada com a esperança

Mais iluminada

Que se pode encontrar

Na entremeada dos ossos.

 

Não haverá lugar mais imperfeito

Para os sentimentos

Proclamados,

[Invernados],

Que a nudez

De um peito descerrado

De afagos.

 

Voltei com tudo

Fora do lugar,

Menos a ilusão

De te amar.

 

Voltei

Com olhos rasgados,

Pingando

O serão de estrelas

Fora do espaço

Celestial.

 

Porém,

Não te aproximes

Com o abraço armado;

Não estarei preparado

Para a realidade

Dos sonhos

Descontinuados.






quarta-feira, 3 de abril de 2024

Histórias de amor inacabadas (2)








este amor brotou como cogumelos,

ocultos aos olhos distraídos do mundo.

 

uma história entre dois amigos, companheiros,

que atravessaram o ciclo e o secundário juntos.

 

ele, António, de duas peles vestidas,

a segunda feita de silêncios e timidez,

uma proteção para o seu amoroso coração.

 

ela, com nome de flor, sem espinhos,

menina das tranças compridas

igual ao seu sorriso.

 

gostavam de jogar xadrez,

partilhar apontamentos,

os crânios da sala de aula.

sem o desacerto dos passos

 

ele amava-a, mas nunca teve a coragem de o dizer na cara…

 adiou o discurso da tomada do seu coração

até mais não …


a Rosa,

gostava de o desmanchar,

retira-lhe um sorriso da sua cara fechada,

gostava dele como as sombras gostam das árvores.

tinha a fama de esconder as lágrimas sorrindo …

 

amigos inseparáveis até o fim do secundário,

quando rumaram a universidades distintas.

 

teria o amor deles chegado ao fim, nessa altura?

dois anos passaram, e um jantar de turma foi marcado.

 

António, que nunca havia tocado álcool,

bebeu até cair para o lado,

mas antes de cair ,

disse á sua rosa tudo o que havia guardado…

naquela noite, rosa e um colega cuidaram dele,

levaram-no para casa.

 

será que as palavras de António, despertaram sementes no coração de rosa?

será que foi o começo de um grande amor?

 

só o tempo poderia dizer…

 

 

continua …




segunda-feira, 1 de abril de 2024

Histórias de amor inacabadas (1)

 

Caçadores de borboletas e de Luas  



esta história começa como todas as outras,

dois corações solitários

transbordando de solidão

[nada de extraordinário]

 

ele, um rapaz... peito lua

ela, com toda uma vida de flor escura

 

ele sofria de fobia em relação às mulheres depois de um embate

ela estudava para ser freira, com asas nas costas e no rosto (lupus)

 

nas escadas de fátima

ele implorava a deus

com lágrimas ao sol

um amor para toda uma vida

 

no banco de uma igreja abandonada

ela pedia um sinal de deus

para continuar a sua jornada

 

tudo tão surreal

o seu nome, maria

o dele, david

ainda mais surreal

 

como poderia uma história como esta dar certo?

 

só deus sabia

 

continua...