terça-feira, 14 de maio de 2024

Adoçadora de naufrágios

 





sereia

com pés de barro, nunca acompanhará

os passos do seu amado;

ficará presa no desgoverno das vagas,

no cais triste das águas.

 

mulher cavala não fará amor

com as pernas trancadas nas coxas;

apenas levará nos seios

o alento das bocas molhadas.

 

apenas apaziguará com os cabelos

as ondas na roupa esfregada.


segunda-feira, 13 de maio de 2024

Histórias de amor inacabadas (4)

 


Três pontes numa mão e o coração na outra margem




Esta história de amor nasceu de outras histórias.

Uma história de dois estrangeiros enamorados por dois estrangeiros.

 A primeira vez que se encontraram foi no aeroporto de Heathrow, dois portugueses a embarcarem no voo para Dublin, ao encontro dos seus amores irlandeses.

Enquanto esperavam, falaram dos seus projetos futuros. Ela, de nome Joana, ia ao encontro do seu Kevim, dois estudantes universitários que se conheceram na noite do Porto.

Ele, de nome Luís, ia ao encontro da sua Dawn, dois estudantes do liceu que se encontraram num hotel do Algarve.

Passaram 5 anos, e no aeroporto de Dublin, Luís voltou a encontrar Joana, agora em diferentes situações. Ele estava prestes a viver junto com Dawn, enquanto Joana chorava em pranto por ter terminado com Kevim. Ele tentou consolá-la com palavras de esperança e deixou o seu contacto.

Por coincidência ou não, Joana nunca o contactou. Uns meses depois, Luís também terminou o seu relacionamento.

 

Será que o amor poderia renascer depois de tanto desamor?

Será que aqueles dois jovens ainda se iriam encontrar outra vez?

Como diz o saber antigo, não há duas sem três, Luís resolveu fazer os caminhos de Santiago e em Tui encontrou Joana trilhando o mesmo caminho.

Será que ambos precisavam de mais sinais para caminharem juntos?

Será que começou uma grande história de amor entre os dois?

 

Continua...


domingo, 5 de maio de 2024

A estrela Mãe

 





Se um dia a luz se apagar,

a persiana se fechar,

e o sol não puder sair da rua,

é nos teus braços

que vou encontrar


               Francisco Davida luz do meu olhar.


sexta-feira, 3 de maio de 2024

Aprisionado numa gota de mar

 






As lágrimas

virgens

de calor

regressam

ao mar

lacrado

para os sonhos.

 

Vejam,

o que as brigas

e os silêncios

[da indiferença]

fazem nos olhos

de uma criança.

 

Vagas de escuridão

presas na inquietude

de marear

a mágoa.

 

Querida,

vamos lá

agarrar no machado

e arrombar o pombal,

é urgente

salvar

os seis braços

com a paz

para que todos

os aniversários

sejam mágicos .







quarta-feira, 1 de maio de 2024

Depois da última linha, tudo voltará a ser mar...

 




Após decifrar o significado dos aplausos,

[a saudação precoce dos futuros regressos].

 

Reuni todas as ilusões,

E nenhuma delas

Era verdadeiramente minha...

Nem as imagens refletidas,

Nem os versos mais altos,

Nem as presenças ouvidas.

 

Nunca fui, nunca chegarei a ser...

Nunca poderia ser aquela menina

Com olhos das três estações

E da liberdade na voz,

Um milhão de vezes conquistada.

 

Sei bem o que fiz,

Arrombei o camarim da imaginação

Para esconder as dores, os amores da sua pele.

 

Vesti as barbas do Pai Natal,

O avental da criada,

As rugas maduras da senhora mais árvore.

 

Calcei a coragem do corredor,

Peguei no pincel do pintor

Para desenhar suas falas.

 

Adotei a rua

Do mendigo mais pobre.

 

Roubei as assinaturas mais belas

E torci suas linhas

Para disfarçar os nomes.

 

Estiquei as ondas

Para boiar nelas

As suas letras

Mais ditosas.

 

No final,

Dei a cara

Para chorar

Suas lágrimas...

 

Ela sou eu,

Eu,

Nunca poderia ser ela.