Vou contar a história de um amor improvável.
Ele era um borracho, aprendendo os primeiros passos, despenando
as rotas, seguindo o assobio do vento ao lado dos seus irmãos.
Um dia, nessa jornada, ele se perdeu na neblina e pousou
numa ravina à beira do mar, exausto, ferido, adormeceu encolhido pelas frias
brisas...
Uma gaivota de perna arregaçada se aproximou...
Foi amor à primeira vista...
A gaivota cuidou do futuro pombo, levou-o para o seu ninho,
deu-lhe no bico o seu peixe favorito...
O borracho recuperou as forças e a esperança de baloiçar
novamente suas asas.
Os dois compartilharam os afazeres das penas.
Ensaiaram… no almofadado chão das nuvens os levantes e os
pousares.
Ergueram juntos, um novo cantar.
Um dia, o borracho se tornou pombo.
Um dia olhou para o céu e viu um bando e voou em sua
direção...
Nesse dia, a gaivota perdeu a vista e o seu coração.
O seu amor nunca mais voltou...
Seu peito tornou-se uma caixa vazia sem o seu pombo-correio.
Agora, todas as manhãs, aquela gaivota espera o retorno da
sua alma, no mesmo lugar da largada …”enrochada” de mágoa …
Ela esgota os possíveis olhares, olhando à sua volta em
busca de um possível regresso do seu amado.
”enrochada” - Palavra inventada, para descrever a saudade fóssil
de uma ave